sexta-feira, 14 de junho de 2013

Aty Guasu relata as violências histórica contra indígenas do MS

NOTA DO CONSELHO DA ATY GUASU CONTRA O GENOCÍDIO

Essa nota do conselho da Aty Guasu Guarani-Kaiowá analisa os relatos dos indígenas guarani-kaiowá que já foram e são vítimas de violências históricas promovidas pelos fazendeiros na região Cone Sul de Mato Grosso do Sul que perdura até os dias de hoje. Além disso, destacamos os perfis dos mentores e executores das violências contra as vidas dos indígenas.

Todos os indígenas guarani-kaiowá idosos (as) se recordam e narram o seguinte:
 “Em 1960, os fazendeiros e seus pistoleiros que chegaram ao sul de Mato Grosso do Sul em nossos tekoha terras tradicionais sempre portavam os dois revolveres (38 e 44) e balas na cintura e seus pistoleiros carregavam nas mãos duas espingardas (12 e 28), todos esses homens brancos “karai” os já lançaram os tiros sobre os índios, em qualquer momento já atiravam em direção dos indígenas, com os tiros de armas de fogos faziam correr os índios. Os índios não reagiam contra os pistoleiros, por isso, os índios para não morrer só corriam e fugiam com a sua família dos pistoleiros. Os fazendeiros e seus pistoleiros eram extremamente temidos, por que matavam sem piedade os índios. Naquela época, fazendeiros falavam rindo que matar índios não é nada, matar índios bugre não é crime, por isso, eles matavam índios rindo, era assim naquela época. Quando os fazendeiros mandavam matar índios, nenhum índio podia falar nada, se alguns índios se manifestassem ou reagissem contra as ações dos fazendeiros eles mandavam matar na hora ou era preso e mandava para cadeia. Naquela época, esses fazendeiros e seus pistoleiros já demonstravam que não gostavam mesmo de nós índios, apresentavam os olhares nervosos e bravos sobre os índios. Era assim naquela época, os fazendeiros já falavam para nós que ia mandar matar muitos índios. Na verdade, já naquela época eles mataram muitos índios e continuam matando nós índios até hoje”. (Narrações de idosos (as) guarani-kaiowá do Mato Grosso do Sul).

Narrações dos idosos (as) citadas acima revelam que os fazendeiros com os tiros das armas de fogo dominaram os indígenas e seus territórios, por isso indígenas Guarani-Kaiowá não reagiam e não podiam fazer nada. Havia duas opções para os indígenas guarani-kaiowá, a primeira era permanecer calados na mira de arma de fogo. Outra opção era reagir para morrer ou reagir para ser preso na cadeia. Idoso (as) guarani-kaiowá recordam e narram que AS VIOLENCIAS contra índios eram assim naquela época antiga, já faz quarenta anos atrás, mas nós do conselho do Aty Guasu, relatamos e narramos aqui os fatos acontecidos no primeiro semestre de 2013, registramos aqui os tiros de armas de fogo lançados em direção do menino Denilso Barbosa no dia 17 de fevereiro de 2013, porque precisava apenas pescar, caçar e circular pela sua terra tradicional. Relatamos aqui os tiros de arma de grosso calibre lançados sobre a comunidade Itay-Douradina-MS que atingiram a cabeça do indígena João, no dia 12 de abril de 2013, porque a comunidade de ITAY começou a demandar a demarcação de sua terra antiga. Lembremo-nos dos tiros de armas de fogo de calibre 12 que acertaram o peito e a cabeça do cacique Nisio Gomes, no dia 18 de novembro de 2011, por que também retornou a reocupar a sua terra tradicional. Relatamos os tiros de arma de fogo que atravessaram o peito do professor Genivaldo Vera no dia 31 de outubro de 2009, por que estava retornando a terra tradicional Ypo’i. De forma igual, relatamos os tiros de armas de fogos que atingiram a cabeça da rezadora Xurite Lopes, janeiro de 2007, por que estava retornando a sua terra tradicional Kurusu Amba-Coronel Sapuacai-MS. Relatamos vários outros tiros de armas de fogos que tombaram as vidas do Guarani-Kaiowá. Acabamos de relatar o tiro que atingiu o peito do Oziel Gabriel Terena e do Joziel por conta de luta para sobreviver nas suas terras tradicionais. Recebemos agora poucos e estamos registrando o tiro de arma de fogo atravessou o peito do indígena Guarani-Kaiowá Celso Figueiredo do tekoha Paraguasu-Paranhos-MS. As listas de nomes dos Guarani-Kaiowá atingidos pelos tiros dos pistoleiros das fazendas continuam chegando todas as semanas, nesta pagina da nota não cabe mais.

Enfim, ontem relatamos as prisões de cinco Guarani-Kaiowá do tekoha Itay-Douradina-MS, por reagirem contra os tiros lançados pelo ex-policial, sobretudo foram presos por lutar pela demarcação de terra tradicional Itay-Douradina-MS. Os cincos presos casais deixam abandonados os seus filhos e suas filhas pequenas no acampamento ITAY-Douradina-MS.

Sobre a causa da prisão dos sete indígenas guarani-kaiowá do ITAY, importa destacar que nos dias 11 e 12 de abril de 2013, como sempre fez, o ex-policial chegou lançando de novo os tiros de arma de fogo sobre as casas e comunidade Guarani-Kaiowá do Itay, um dos tiros acertou a cabeça do indígena João, no momento em que pela primeira vez, o João já ferido reagiu e entrou em luta corporal com o ex-policial, ele foi desarmado, que durante a luta física o ex-policial foi ferido na cabeça pelos indígenas e o ex-policial faleceu depois. É importante ressaltar que a origem dessa briga, ameaça de morte, violência e assassinato é a disputa pela terra. Já é sabido que os indígenas guarani-kaiowá que luta pela demarcação de suas terras não negam seus atos e não inventam nada para se livrar de seus crimes cometidos, se entregam, vão presos se colocam a disposição da justiça enquanto os fazendeiros assassinos dos índios negam seus crimes e inventam mil coisas para se livrar das punições, escondem os cadáveres indígenas, etc.

Aqui no Mato Grosso do Sul os assassinos dos índios foram e são ex-policiais, políticos, vereadores, deputados, ex-governador e advogado, etc, por isso nunca foram presos. Quando índios Guarani-Kaiowá reagem contra os tiros do ex-policial em legítimas defesas, os índios são presos sim. Os fazendeiros assassinos dos índios não são presos, todos estão foragidos.
 Voltando aos relatos dos idosos (as), ao analisarmos os fatos acontecidos hoje com os indígenas concluímos que as violências descritas contra os indígenas em 1960, continuam acontecendo hoje. Não há punição aos fazendeiros, mas há punição aos índios.

Por fim, diante dessa impunidade histórica, pedimos à justiça as punições rigorosas também aos fazendeiros assassinos dos índios.

Atenciosamente,
Tekoha Paraguasu, 13 de junho de 2013
Conselho da Aty Guasu Guarani-Kaiowá

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